Fazer US em coelhos é a mesma coisa que fazer em pequenos animais?

A resposta é não. É muito comum as pessoas acharem que pelo porte do animal, a ultrassonografia em coelhos é “fácil” e parecida com pequenos animais quando na verdade não é. Os coelhos possuem anatomia e fisiologia muito específicas, são animais estritamente herbívoros e possuem o trato gastrointestinal muito mais complexo do que outras espécies. 

Para a realização de um bom exame ultrassonográfico faz-se necessário conhecer muito bem essas particularidades para que não ocorram erros básicos de diagnóstico.

Imagem: Apêndice vermiforme. Arquivo pessoal.

O TGI do coelho pode não somente atrapalhar a realização do exame ultrassonográfico pelo tamanho e aspecto das alças, como também pode confundir e induzir ao erro. 

Uma das primeiras coisas a se considerar é o fato de que eles apresentam alterações gastrointestinais secundárias a diversos outros fatores como: estresse, dor, desconforto, distúrbios reprodutivos, etc. Isso quer dizer que sempre que um coelho chegar para avaliação ultrassonográfica com queixa de alteração em TGI, na maioria das vezes ele terá alguma causa primária a ser elucidada. É muito comum por exemplo pacientes com obstrução de ureter ou cálculos renais, grande quantidade de sedimento em urina e fêmeas com alterações uterinas apresentarem mudanças na microbiota intestinal ao ponto de terem hipomotilidade, fermentação gástrica, gastroenterite e obstruções por tricobezoar. 

É aí que ressalta-se um outro ponto muito importante: as obstruções e as alterações gastrointestinais também não são parecidas com pequenos animais. As principais diferenças são:

1. O principal ponto de obstrução em coelhos é o piloro; É imprescindível saber avaliar o piloro adequadamente quanto à espessura e ecogenicidade da parede e o conteúdo luminal.

Imagem: Piloro de coelho. Arquivo pessoal.

  1. Quando há obstrução em piloro, o intestino delgado costuma ficar com grande quantidade de conteúdo luminal líquido, o que faz com que sejamos tendenciosos a pensar que o ponto de obstrução é posterior ao líquido, ou seja, em final de intestino delgado ou em intestino grosso. Isso ocorre porque o ceco do coelho é muito desenvolvido e está sempre cheio de conteúdo fibroso. Enquanto o piloro só permite a passagem de conteúdo líquido, o ceco com conteúdo denso diminui a velocidade de passagem desse líquido, fazendo com que ele fique parcialmente restrito em intestino delgado.
  2. Existem dois segmentos intestinais muito importantes para avaliar que são o sacculus rotundos (nome dado a junção íleocecocolica dos coelhos) e o apêndice vermiforme (apêndice cecal, em formato alongado, altamente susceptível a processos inflamatórios/ infecciosos graves).

Imagem: Sacculus rotundos. Arquivo pessoal.

  1. O cólon ascendente dos coelhos tem como característica um forte ligamento longitudinal que mantém o segmento anatomicamente plissado, o qual apresenta no ultrassom um aspecto semelhante à imagem de corpo estranho linear em pequenos animais.

Imagem: Cólon ascendente de coelho. Arquivo pessoal.

Estes são alguns dos principais motivos da necessidade de se conhecer muito bem a espécie em que iremos avaliar, pois por maior que seja a experiência do ultrassonografista em pequenos animais, ainda assim pode estar sujeito a cometer erros no exame ultrassonográfico destes animais. Caso você tenha interesse em aprender mais sobre ultrassonografia de coelhos e de pets não convencionais, nossa escola dispõe de um curso presencial com aulas teóricas e práticas, consultoria e treinamento na área.