Como reconhecer a presença de corpo estranho em trato gastrintestinal?

 

Reconhecer a presença de um corpo estranho em trato gastrintestinal está entre os desafios mais frequentes na rotina do ultrassonografista de pequenos animais. E a cada caso o desafio se renova, principalmente porque dependendo a constituição do material a imagem pode ser claramente observada ou absolutamente confundível. Isso mesmo do céu ao inferno no mesmo tipo de suspeita clínica e em questão de segundos.

Vamos iniciar dizendo que se entende por corpo estranho qualquer a identificação da presença de um material que não seja naturalmente encontrado naquela localização. Então se houver pedaços de alimento (por exemplo legumes) não digeridos ou pedaços de brinquedos feitos de cartilagem ou couro dentro do estômago, em ambas situações, podemos confirmar a suspeita clínica de corpo estranho.

Importante ressaltarmos que:

– a imagem do corpo estranho varia segundo as propriedades acústicas do material

– a maioria bloqueia a passagem do feixe sonoro ocasionando uma sombra acústica “limpa” ou sombra suja, ou até mesmo nenhuma sombra dependendo do material.

Alguns materiais mais densos podem produzir outros artefatos de técnica como por exemplo, o artefato de reverberação. Infelizmente a imagem sonográfica ou o artefato de técnica resultante não é o suficiente para a identificação da natureza do corpo estranho. Muitas vezes a identificação do corpo estranho se torna mais evidente quando há processo obstrutivo associado.

Os corpos estranhos denominados lineares (linhas, fita, tecido, plástico) podem produzir imagens muito características que auxiliam na caracterização do processo. O corpo estranho linear produz uma imagem característica de plissamento do segmento de alça intestinal. Em alguns casos é possível identificar o material.

 

Em geral a presença do corpo estranho ocasiona algum grau de processo obstrutivo e podemos identificar por:

– dilatação do segmento proximal à obstrução com conteúdo de padrão líquido hipo/ anecoico,

– aumento do número de contrações peristálticas com padrão não evolutivo,

– padrão em camadas mantido quando não associado a processos neoplásicos.

 

Por fim, alguns pontos são mais suscetíveis a parada destes materiais, seja pelo estreitamento luminal, seja pela presença de estruturas valvulares/ musculares onde alguns materiais podem se ancorar ou ter mais dificuldade na passagem. O cárdia, o piloro, a curva duodenal descendente e a junção ileocolica são os principais pontos onde procuramos estes materiais em casos de suspeita de corpo estranho e/ou processos obstrutivos.

É sempre importante ressaltar que a técnica de varredura adequada da cavidade abdominal, associada a condições técnicas ideais relacionadas ao equipamento e porte (score corporal e conformação abdominal) do paciente também influenciam imensamente na eficácia diagnóstica nestes casos.