Desde a implantação da ferramenta Doppler, a expectativa sempre foi grande quanto as respostas que essa nova modalidade poderia acrescentar às informações já observadas ao Modo B, e não foi diferente quando falamos da avaliação renal.

Por vezes, a avaliação ultrassonográfica renal pode ser frustrante quanto a sua especificidade na correlação dos achados quando correlacionamos com as possibilidades histopatológicas, mas convenhamos: isso não acontece apenas no rim! Principalmente as lesões difusas, apesar de ocasionalmente fáceis de serem caracterizadas, possuem listas por vezes, extensas, de diagnósticos diferenciais.

Como órgão nobre, a demanda sanguínea do rim é alta, sendo este órgão extremamente sensível a mudanças hemodinâmicas e gravemente afetado quanto à lesões isquêmicas ou relacionadas à hipóxia, sendo assim, o estudo Doppler renal pode ser de importante valia quando adequadamente correlacionado à clínica, aos achados em modo B, aos dados laboratoriais e, porquê não, ao estudo cardiovascular do nosso paciente.

Imagem 1: Imagem triplex de Doppler renal evidenciando estudo de artéria interlobar média, com alterações em parâmetros dopplervelocimétricos. Arquivo pessoal.

A hemodinâmica renal já foi amplamente estudada e sabemos que o aporte sanguíneo renal deve se manter estável, por isso a caracterização dos dados dopplervelocimétricos normais é relativamente fácil de ser compreendida, e as alterações destes valores também pode ser fácil de ser caracterizada.

O estudo Doppler renal requer paciência do ultrassonografista, amplo conhecimento e avaliação ao modo B, além de técnica, que compreende desde os ajustes adequados da ferramenta Doppler a um protocolo adequado e sistematização do seu exame.

Neste estudo, cada rim é avaliado de forma individual, pois os achados podem ser unilaterais.

Mas quando solicitar um estudo Doppler renal?

Como falamos, uma das maiores frustrações do modo B é a sua baixa especificidade no diagnóstico das lesões difusas, sobretudo as agudas. Uma característica de várias lesões agudas é a ausência de alterações ultrassonográficas ao modo B (e nisso incluímos desde alterações morfológicas à alterações de ecogenicidade e ecotextura). Nestes casos – lesões renais agudas – a ultrassonografia Doppler mostra alterações hemodinâmicas que adequadamente interpretadas mostram injúria renal, antes que o modo B demonstre alterações. Sendo assim, situações que possam incluir nefropatia aguda como diferencial, pode ser extremamente interessante o estudo Doppler. Dentre essas possibilidades podemos incluir trauma, intoxicação, processo obstrutivo de vias urinárias, trombose e anafilaxia, por exemplo.

Imagem 2: Imagem triplex de paciente com obstrução de vias urinárias inferiores (uretrolitíase). Observar na imagem em modo B sinais de hidronefrose e alterações nos dados dopplervelocimétricos, que indicam o quadro agudo do processo obstrutivo (aumento do índice de resistividade). Arquivo pessoal.

Nefropatias crônicas, podemos realizar estudo Doppler?

Aqui podemos pensar que tipo de resposta o clínico quer. As lesões crônicas já podem ser evidenciadas no modo B, e por mecanismos intrínsecos o rim costuma adequar sua hemodinâmica de forma muito eficiente. Então lesões crônicas podem ou não gerar alterações dopplervelocimétricas. As mais comuns observadas são o achatamento da ascensão sistólica (associada a estenoses das artérias renais) e aumento do índice de resistividade. Sendo assim, o Doppler renal para pacientes crônicos seria mais indicado quando falamos em monitoramento dessa nefropatia e para o diagnóstico de algum processo de agudização. Vamos exemplificar para ficar mais claro?

Pensamos que você e o clínico (ou nefrologista) acompanham um paciente nefropata crônico e estável, e este paciente precisa passar por um procedimento (seja anestésico para intervenção cirúrgica qualquer ou terapêutico com medicação com algum potencial nefrotóxico) que possa agredir os rins. O estudo Doppler renal pré e pós-procedimento pode dar informações quanto à injúria renal, a nível hemodinâmico, que outros estudos podem não acusar.

Além disso, o estudo Doppler renal também pode ser usado para caracterização de massas renais… mas daí já é conteúdo para um post futuro queridos navegantes.

A realização do estudo Doppler renal, e a sistematização deste estudo você aprende aqui em nossa escola NAUS, no Curso Presencial de Ultrassonografia Doppler . Este curso ocorre duas vezes ao ano e se você quer aprender ou aprimorar seu exame, veja no nosso calendário quando será a próxima turma e não perca essa chance.